sábado, 19 de novembro de 2016

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121º Entrevista do FLAMES: Luísa Sobral


Luísa Sobral


Entrevista anterior da Luísa Sobral no FLAMES - aqui - http://flamesmr.blogspot.pt/2014/11/88-entrevista-do-flames-luisa-sobral.html

Depois de no último álbum teres cantado em português, eis que regressas aos discos. Este teu novo álbum tem músicas em português mas também em inglês. Porquê esta escolha? Sentes-te mais à vontade a cantar em que língua?
É indiferente. Eu na altura escrevo na língua em que me apetece. A canção na altura pede uma língua para mim. Neste álbum também tenho uma música em francês porque vivi um tempo em Paris e apeteceu-me escrever uma música também em francês. Claro que a minha primeira língua é o português e se calhar esta é a língua em que me é mais fácil de expressar até pode ser português… mas nas músicas nem sempre é assim. Como os meus ídolos são anglo-saxónicos até me sinto bastante à vontade com o inglês, mas não sei… eu por acaso até me sinto à vontade nas duas! Uso a língua que a canção pede.

Este álbum chama-se "simplesmente" Luísa. Porquê esta escolha?
Porque este é um disco muito autobiográfico. As canções são muito mais sobre mim, sobre esta fase da minha vida… ou melhor, sobre a fase da minha vida quando estava a escrever as canções. Este nome também se deve aio facto de eu sentir que é quase um recomeço. Sinto que estou diferente e que este é um novo início! Então para mim fez sentido ser um disco homónimo, porque é um remarcar… É quase um statement: é como se fosse um início.

Sobre este disco a Luísa referiu “um disco que mal posso esperar para tocar ao vivo”.  O que podemos esperar dos teus concertos ao vivo? Vais-te focar mais neste disco? Porquê esta vontade?
Estas canções têm imenso espaço para nós explorarmos ao vivo. Pelo menos eu acho. Nesse sentido, penso que este disco talvez seja um bocadinho diferente dos meus discos anteriores. Os outros eram muito orquestrados, e cada instrumento tinha o seu papel muito definido. Aqui eu acho que isso não acontece. Acho que é um disco muito mais aberto. Já toquei algumas vezes estes temas com a minha banda de cá e já senti isso: cada vez que tocamos os temas eles ganham um corpo diferente. Por isso, eu acho que isso vai acontecer ao longo desta tourné (a começar em Janeiro). Penso que vai ser muito divertido por isso mesmo, porque vamos poder sempre explorar coisas novas e tocar sempre de forma diferente… dependendo do nosso estado de espírito… Por isso apetece-me muito tocar ao vivo por... Apetece-me mesmo explorar estas novas canções com eles.


Se calhar, para ver o que é que vai sair dali... Para descobrir o que vai acontecer com determinada música…
Sim, sim, claro que sim! Por exemplo, acho que os concertos iniciais serão completamente diferentes dos últimos concertos da tourné. Acho que vamos ter muito tempo para ir brincado no palco com as canções, o que irá complementar o disco.

O facto de esta álbum ter sido criado num local por onde tantos artistas internacionalmente conhecidos passaram, aumenta a responsabilidade?
Eu não senti muito isso. Não sou assim muito de ficar fascinada com essas coisas. Achei giro, claro que achei giro tirar fotografias e fazer o videozinho do making-off… Esse vídeo fui eu que fiz… e claro que são artistas que são uma grande inspiração para mim. Mas eu não acredito muito nessas coisas do espaço. Aquele espaço foi simplesmente onde os músicos gravaram… mas eles é que são a coisa importante! Não é tanto o espaço! Obviamente que é interessante e é giro saber que estou ali… mas eu não deixo nunca que essas coisas sejam tão grandes, que tenham influência sobre mim. Agora sim é interessante… Até liguei ao meu pai: “Ei, que giro, tu sabias que gravou aqui o Frank Sinatra?”. É engraçado, mas para mim não tem muita influência sobre a minha música… O mais importante são os músicos que gravaram comigo… as coisas que fazem… isso sim foi importante. Podia ter sido noutro estúdio qualquer que com aqueles músicos teria sido igual.


Ao fim de anos na estrada e de alguns álbuns editados, onde consegue encontrar inspiração para mais um trabalho de estúdio?
Fazer música é uma coisa tão natural para mim… Nós tomamos banho todos os dias de manhã, não é? Quer dizer, às tantas não é importante termos tomado banho durante 10 ou 20 anos que agora deixamos de tomar, continua a ser parte da nossa rotina. Escrever é um bocadinho isso para mim, não é parte da minha rotina porque eu normalmente não tenho rotina, agora com um bebé é que tenho mais rotina (risos). Mas escrever é parte de mim. É como uma necessidade. Não é bem necessidade…. mas é uma coisa que me deixa feliz. Por isso eu componho e vou-me inspirando. Tem muito a ver com o facto de eu ouvir música e ouvir outras pessoas. Ouvir os meus colegas cá em Portugal por exemplo… ou ouvir discos internacionais. Tem muito a ver com isso! Eles são a inspiração para mim. Ainda hoje, por exemplo, vinha a ouvir o novo disco do Zambujo e vinha a pensar em compor… Há discos que me dão vontade de compor! Estava a ouvir esse e a pensar “agora apetece-me chegar a casa e escrever qualquer coisa”. Por isso, acho que são esses discos, discos que eu vou ouvindo, que me fazem ter vontade de continuar a compor.

Isso é giro, por acaso é uma coisa que muitos artistas nos reportam...  essa coisa de estar a ouvir um disco e dizer “ai, apetece-me fazer qualquer coisa assim”.
Sim, isso acontece quando nós ouvimos qualquer coisa de que gostamos e vemos naquilo alguma coisa em que podemos pegar e transformar em nosso. Eu acho que os músicos se apoderam das coisas uns dos outros, e é a parte mais bonita, em que nós ouvimos e dizemos “Ah, eu quero uma coisa daqui”. Então nós roubamo-nos uns aos outros… No fundo é uma inspiração para nós. E é isso, eu acho que sou inspirada por outros para continuar. Acho que se a música acabasse eu não sei se também eu continuaria, acho que era impossível talvez.

Este disco é fundamentalmente inspirado nos blues e folk, certo?
Sim, são muitas das minhas inspirações agora…

Pode dizer-se que de alguma forma se identifica mais com esse tipo de música (de inspiração americana)? Mais do que um género de música mais portuguesa?
Sim, bem, neste momento comecei a ouvir coisas mais simples, não necessariamente simples mas…
Mais orgânicas?
Sim! Por exemplo, Bob Dylan, ou Tom Waits são compositores em que a palavra é o mais importante! E eu acho que a música é o veículo da palavra. Só que é o veículo da palavra de uma forma super simples. Eu acho que eles usam poucos acordes e acho que isso faz com que a palavra seja ainda mais bonita, ainda mais especial. E eu comecei cada vez mais a ouvir esse tipo de artistas e a afastar-me um bocadinho talvez mais do jazz, no sentido da complexidade. Às vezes pôr demasiados acordes super estranhos pode ser pior. Comecei a apaixonar-me cada vez mais pela simplicidade e a querer “tirar cada vez mais” em vez de “pôr”. E no folk eu encontrei isso, encontrei a mensagem e a música que está a fazer a “caminha” da mensagem. E faz sentido para mim nesta fase! Comecei a querer retirar e a tentar encontrar ali o esqueleto das canções… e o folk está todo muito nú, está muito à mostra e eu adorei, adoro isso. Então, acho que acabei por começar naturalmente a compôr um bocadinho mais assim.

Há um grande acontecimento que teve lugar agora, que o distingue de todos os momentos que já ocorreram, que foi o nascimento…
Do meu filho (risos)

Sim... De que forma é que isso influenciou, ou acha que vai influenciar, as suas produções musicais futuras?
É assim… até aqui não influenciou tanto porque quando eu escrevi as canções ainda nem estava grávida! Depois gravei o disco grávida, praí com 3 meses, acho que isso talvez tenha influenciado porque acho que é possível quando uma pessoa está grávida estar mais emotiva e tudo… Talvez tenha influenciado aí. Mas claro que vai influenciar! Agora neste momento está a influenciar! Às vezes negativamente (risos), por falta de tempo… só por falta de tempo (risos). Às vezes estou dias para ouvir algumas canções e para dar o OK para alguma coisa, isso está a influenciar agora. Mas é uma adaptação dos dois a este novo mundo, não é? Mas eu acho que vai influenciar. Ser mãe já me melhorou muito como pessoa e eu espero que isso também se reveja na minha música. Mas eu sinto mesmo que todos os dias ele me torna uma pessoa melhor. Uma mulher antes de ser mãe, ou até de ser pai, a nossa prioridade somos nós mesmos, por mais que estejamos numa relação nós temos o nosso instinto de sobrevivência, que é maior do que tudo não é? E a nossa prioridade somos nós. E a partir do momento em que nasce um filho, a prioridade já não somos nós na nossa vida, e isso eu acho que nos melhora muito enquanto pessoa. Porque de facto já não somos tão auto-centrados e isso é uma coisa bastante positiva, porque faz com que uma pessoa relativize muito tudo o resto. Começamos a relativizar coisas que se calhar antes nos chateavam muito e tudo, por causa do nosso ego. Por isso, eu acho que me tem melhorado muito, estou muito mais calma também, mais serena, portanto se isso me melhorou mais como pessoa eu espero que isso se reflita no meu eu criativo.

Na outra feita há cerca de 1 ano e qualquer coisa, houve uma altura em que eu lhe perguntei quais é que eram as suas influências, e o nome Bob Dylan surgiu… 
(risos) Sim, surge sempre.

Como acolheu a notícia do Prémio Nobel deste ano? Tem sido um assunto polémico...
Eu achei super normal, ao contrário de algumas pessoas. No outro dia também me perguntaram sobre isso numa entrevista e a verdade é que eu acho que as pessoas hoje em dia têm demasiadas opiniões por coisas. Nós todos sentimos agora que por termos as redes sociais temos que dar a nossa opinião sobre imensas coisas, quando ninguém pergunta. Ninguém quer saber o que é que toda a gente acha sobre o Bob Dylan, mas toda a gente achou que podia dizer o que é que achava. Pessoas que se calhar nem conhecem bem a pessoa nem a discografia e de repente têm de dar uma opinião sobre alguma coisa. Por isso, para mim essas opiniões foram completamente irrelevantes, até porque para mim o Bob Dylan, acima de tudo, como eu disse há bocado, a palavra está acima das outras coisas e para mim. E o Bob Dylan, acima de tudo, é um poeta. Por isso, se um poeta não pode receber um Prémio Nobel da Literatura então não sei em que mundo é que vivemos, não faz sentido.

Sim, há pessoas que o associavam apenas à música e nem tinham ideia que ele criava aquilo que cria.
Claro! E a verdade é que eu acho que os poemas dele são estudados em aulas de literatura em inglês! Para além disso, ele é músico, ou seja, ele é poeta, músico e isso só tem ainda mais valor… e isso também é diminuir a literatura num ponto um bocado básico porque há pessoas que escrevem romances e assim e podem receber Prémios Nobel, depois também há dramaturgos… porque é que não hão-de ser todos escritores? Também acho que foi um passo um bocado audaz talvez mas acho que fez sentido e acho que para nós, comunidade de músicos e compositores, foi bastante importante e foi bonito de ver a acontecer ainda enquanto que eu estou nesta terra.

Eu só ainda ouvi o My Man, por isso, o que é que eu posso esperar do resto do disco?
Os meus discos anteriores tinham muito piano! Este disco já tem muito mais guitarra. Tem mais guitarra eléctrica também, o que é um bocado interessante porque eu não tinha nenhuma guitarra eléctrica no meu primeiro disco. Por isso é um disco assim um bocado engraçado. Talvez a instrumentação seja um pouco mais agressiva por causa da guitarra eléctrica mas isso também torna o disco um pouco mais melancólico… então tem assim uma mistura orgânica porque as coisas foram todas construídas ao mesmo tempo. Todos tocamos as músicas ao mesmo tempo e decidimos o que é que ia ser feito enquanto tocávamos e por isso teve este resultado orgânico.

Obrigada à Luísa pela disponibilidade em responder às nossas perguntas. Que o álbum seja um SUCESSO!


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1 comentário:

  1. Gostei da entrevista ! :)

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