terça-feira, 22 de março de 2016

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116º Entrevista do FLAMES: Gil do Carmo


Gil do Carmo

Chama-se "A uma voz" e é o novo álbum de Gil do Carmo (opinião do álbum aqui).
Este foi então o pretexto para trazer mais um grande artista ao FLAMES. Fiquem com a nossa conversa, e conheçam o novo álbum do músico.

A TODOS OS ARTISTAS O FLAMES PERGUNTA 


Quais são os artistas que mais o inspiram?
Não é fácil nomear alguns, mas há músicos e músicas que eu ouço ad eternum. Tenho a influência da minha família, Lucília e Carlos do Carmo, mas posso pensar em Egberto Gismonti, Tom Waits, Fausto… mas haveria muitos outros… não é fácil escolher. 

Quem é normalmente o responsável pela composição das vossas músicas? É o Gil que costuma fazer tudo?
Desde sempre que gosto, e canto, as minhas letras. Neste disco conto com o talentoso Yami como co-autor das músicas, mas sou eu que faço as minhas letras todas. No disco anterior, o Sisal, temos orquestra, muitos convidados, muitos instrumentistas, muitos arranjos, coros… achei que fazia sentido que este fosse um disco mais de banda. A sonoridade foi aparecendo naturalmente e desta forma o disco tornou-se acústico, graças ao trabalho dos geniais músicos com os quais trabalho. Queria que este disco não fosse complicado e que tivesse o fio condutor da voz onde a simplicidade se notasse música após música. 




Há algum local onde gostariam de tocar e ainda não tiveram oportunidade de fazê-lo?
Sim, há muitos, em Portugal mas também lá fora. Espero que mais cedo ou mais tarde eu consiga realizar o sonho que tenho de tocar em alguns locais. Combinando o sonho e a minha vontade, acho que conseguirei que aconteça. Acho que se deixarmos de sonhar é mais difícil construir o futuro. Claro que na vida há acções que não se concretizam, mas o sonho ajuda-nos.

Lembra-se de alguma situação caricata que já lhe aconteceu num concerto?
Sim... tantas… É característico nos músicos estarmos sempre a pegar partidas uns aos outros. Há sempre aquela brincadeira típica de escondermos os instrumentos ou de metermos algo desalinhado. Mas uma vez aconteceu uma engraçada. Estamos, penso que no Algarve, e reparámos que o produtor estava com vontade de namorar com uma determinada pessoa. Todos percebemos isso então arranjámos maneira de ter acesso ao quarto de hotel dele e fizemos de forma a que ele não conseguisse entrar. Bloqueámos a porta usando cadeiras e a cama… Isto não se faz!!! (risos)… Não se faz… mas esta "boa onda" é muito boa entre nós.


AO GIL DO CARMO O FLAMES PERGUNTA 

O disco Sisal tem uma orquestra, muitos instrumentos… este álbum destaca-se e parece quase uma antítese desse álbum… 
Sim... às tantas até é...

Foi propositado ou foi algo que aconteceu?
Não foi pensado, aconteceu naturalmente. Aconteceu comigo e com os geniais músicos com quem trabalho. Fomos gravando ao vivo, fomos experimentando, e foi o que ficou. Nós queríamos que o disco tivesse uma mensagem simples e eficaz e acho que isso ficou e acompanha todas as músicas.


Estive a ouvir o álbum, e uma das coisas que sobressaiu foi a mistura de sonoridades e géneros. Como define o seu estilo musical?
Essa é uma pergunta mesmo muito difícil… Não lhe sei dizer. É uma música muito minha, tendo sempre Lisboa como ponto de partida. O fado também é uma das bases para onde parto para todos os géneros musicais que Portugal acabou por influenciar pelo mundo fora, África, Índia, Sul da América... É uma miscigenação de culturas com a cultura portuguesa que tem tanta influência.

E como define este seu novo álbum?
Este álbum é um conjunto de histórias e vivências… Eu penso que só com isso se consegue um álbum, com as convivências do quotidiano. São 13 histórias de recantos de Lisboa, de sítios que visitei, locais que conheço… Eventualmente tem amores e (des)amores, tem Lisboa que é apaixonada e única. Lisboa é única nas várias Lisboas que se poderá viver. É uma cidade muito cosmopolita neste momento, das mais cosmopolitas. As gentes que se vêm agora lá são provenientes de todo o Mundo…

Porquê este nome para este álbum?
Este nome tem um sentido duplo. Se é verdade que acontece todo ele “A Uma Voz” precisamente porque só há uma voz, também me dá a sensação que hoje em dia é necessária uma voz. Dá-me a sensação que estamos numa altura de existência humana e civilizacional em que temos de viver “a uma voz”! Andamos todos com muita pressa, muito preocupados, as coisas não estão para brincadeira... é importante encontrarmos esta voz pelo bem da nossa própria sobrevivência enquanto espécie.

Que temas conseguiu explorar neste novo disco que ainda não tinha conseguido abordar nos seus trabalhos anteriores?
Sinceramente não pensei nisso.. nem sei se eventualmente exploro algo de diferente.. bom.. talvez sim. Por exemplo, na música “A Menina Do Calção Branco” refiro-me à lenda que diz que “A garota de Ipanema“ tenha sido, na verdade, tuga. Esse foi o ponto de partida para a criação da música.

O fado sempre esteve muito presente na sua vida… sente que as pessoas à sua volta esperavam que este seu novo álbum se debruçasse sobre o fado?
Acho que as pessoas não me vêm como um fadista tradicional, logo não me parece que esperassem isso deste disco. No entanto, eu gosto sempre de partir dessas influências do fado para a minha música.

Há influência da literatura em pelo menos uma música, sedo que pelo menos o Jorge Amado é mencionado numa música. Já que no nosso blogue a literatura é um ponto muito forte, ficámos curiosas em saber se a literatura de alguma forma influenciou o seu trabalho.

Ah... que bom que gostam de literatura! Nas minhas músicas há muita influência da literatura. Eu tenho o hábito desde miúdo de ter sempre poesia na mesa-de-cabeceira, para além da leitura que estou a fazer no momento. A leitura e a poesia acompanham-me desde miúdo. É muito difícil para mim referir-me a apenas um autor ou poeta, mas gostava de fazer referência a Herberto Helder. Por uns tempos até vão falar nele porque faleceu recentemente, mas eu acredito que eventualmente daqui a uns 100 anos ele será considerado um poeta tão grande quanto Fernando Pessoa. Mas há outros poetas de que gosto imenso… nem é preciso nomear Fernando Pessoa. Um outro ponto de referência é para mim Sophia de Mello Breyner.

Que outros projectos tem para o futuro?
Neste momento vou-me focar neste novo disco. O nosso objectivo agora é o de pegar nele, fazer a apresentação dia 30 de Março no B.Leza em Lisboa, e depois levá-lo a todos os lugares que conseguirmos. Claro que já estou a pensar noutros projectos, eventualmente num disco futuro, mas por agora gostaria de colher os frutos que conseguir deste álbum.

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