quarta-feira, 27 de maio de 2015

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101ª Entrevista do FLAMES: Cuca Roseta (artista portuguesa)



Já foi apelidada de "A Nova Voz do Fado" e é um facto incontornável de que Cuca Roseta, de apenas 33 anos, já conquistou o seu lugar junto aos grandes nomes do fado dos dias de hoje.
Editou o seu primeiro disco em 2011 baptizando-o com o seu próprio nome, "Cuca Roseta". Seguiu-se, dois anos depois, "Raíz" que confirmou o talento da fadista e a admiração de uma fiel legião de fãs. Presenteia, agora, os seus fãs com o seu terceiro trabalho - "Riû". 
O FLAMES esteve à conversa com a Cuca e o resultado segue-se nas próximas linhas!  


A todos os artistas o FLAMES pergunta...

Porquê a escolha do nome artístico Cuca Roseta?
Cuca é mesmo o meu nome, nem os meus pais me chamam Maria Isabel, que é o nome com o qual fui registada porque não permitiam Cuca no Registo Civil. Mas sempre toda a gente me tratou por Cuca desde bebé. Excepto os professores da faculdade, mas eu não me identificava. 


Quais são os artistas que mais a inspiram? 
No fado, a Amália Rodrigues, o Camané, a Ana Moura, é neles que mais me inspiro. Mas fora do fado, as músicas que geralmente ouço, diria que o Frank Sinatra, o Michael Jackson, os Beatles, os Queen… Também gosto de música francesa. 


Qual é o local onde mais gostaria de actuar? 
(pensa durante uns segundos) Eu não crio muitas expectativas, vivo muito o presente. A única coisa que eu peço é poder continuar a cantar o fado. E sim, eu gosto muito de ser embaixadora de Portugal lá fora, portanto gostava de poder continuar a levar o fado a outros países. 


Que mensagem gostaria de ver a ser erguida num cartaz durante um concerto seu? 
(pensa durante uns segundos) Gostava muito de ver mensagens relacionadas com o interior e não com o exterior. Isto é, algo que dissesse que eu tinha tocado na vida de alguém. Algo como “obrigado por teres mudado a minha vida”, ou algo do género. 


Então as típicas mensagens de “Cuca, és linda” não são tanto a "sua onda"?
Exacto, são bonitas, mas a beleza acaba, desaparece. Mas a beleza interior não. 


Recorda-se de alguma situação caricata que tenha acontecido num concerto seu e que queira partilhar?  
(risos) Sim, lembro-me perfeitamente. Numa tour que fiz na Holanda, eram cerca de 15 concertos, os meus músicos resolveram deixar crescer a barba. Só que no último concerto, sem eu saber, cortaram todos a barba e deixaram uns bigodes muito esquisitos. Então quando eu entro em palco, sem saber de nada, aproximo-me do guitarrista e vejo-o assim e depois reparo em todos os outros. Foi horrível, ter de aguentar um ataque de riso. Foi pior do que atuar para 15.000 pessoas, ou para o Presidente da República, ou para os reis da Suécia… Foi mesmo difícil ultrapassar este ataque de riso. 


À Cuca Roseta o FLAMES pergunta...

A Cuca acredita que nasceu para cantar o fado tal como acredita no destino. Foi a Cuca quem escolheu o fado ou foi o fado que a escolheu a si? 
Eu acredito no fado, acredito no destino e acredito que o fado me escolheu a mim. Eu não cresci num bairro lisboeta, cresci perto da praia, nenhum dos meus amigos ouvia fado. E então, aos 18 anos entrei pela primeira vez numa casa de fado e apaixonei-me perdidamente. É mesmo o destino, a vida levou-me para ali. E a partir daí nunca mais parei. A princípio foi complicado, ninguém gostava de fado. Quando dizia que cantava as pessoas não percebiam porquê. Ia para as casas de fado sozinha, porque os meus amigos não achavam muita piada. E queria conhecer cada vez mais este mundo, estas pessoas. 


Foi uma caminhada solitária porque o fado não é muito popular nas camadas mais jovens? 
Agora é mais, mas na altura não. Tenho 33 anos e comecei aos 18, não havia ninguém da minha idade nestes círculos na altura. Mas eu ia sempre e olhando para trás valeu bem a pena. 


No passado foi presença assídua nas casas de fado da capital portuguesa. Acha que essas são as melhores escolas para qualquer iniciante no fado? 
Sem dúvida! Aliás, é a única escola. Os estrangeiros costumam perguntar se há escolas de fado, mas não… o fado é algo que tem de ser vivido. O fado é uma música de improviso. É chegar a um restaurante onde não se conhece ninguém e pedir para cantar, é preciso ter lata para chegar à beira de alguém e dizer “quero cantar isto neste tom”. Mas é o primeiro grande desafio. Depois é preciso continuar, ouvir e conhecer os que sabem mais do que nós. 


Há relativamente pouco tempo participou como júri num programa da TVI de novos talentos da música. Acha que o nosso país recebe de braços abertos os novos talentos ou, pelo contrário, apresenta-lhes alguns entraves numa fase inicial? 
Eu acho que o nosso país tem um problema: não consegue dar apoio suficiente aos vencedores. Existem muitos e bons talentos em Portugal e eu acho que as pessoas os valorizam muito. Eu própria fiquei muito impressionada com algumas vozes neste programa! Mas ser artista não é só ter uma boa voz, é preciso saber cantar, ter presença, carisma, saber dar entrevistas, também ser um bocadinho modelo e ator. E o que acontece em Portugal é que pessoas com uma óptima voz saem destes programas e não têm uma base que os apoie, que lhes dê aquilo que precisam para brilhar. Dou o exemplo do David Bisbal, com quem já trabalhei, saiu da Operação Triunfo e tinha tudo, tinha os melhores, a melhor equipa a apoiá-lo: compositores, músicos, fotógrafos… e é isto que falta no nosso país, este apoio aos novos talentos. 


Para além de cantar a Cuca também compõe alguns dos seus temas. Onde vai buscar a sua inspiração para as letras que escreve? 
Tenho sempre muito cuidado com este processo criativo. Eu sou psicóloga e sou apaixonada pelo comportamento humano e gosto muito de observar. Inspiro-me geralmente em paisagens… começo a pensar sobre a vida e surgem-me ideias. 


Então, estar a uma secretária não é o processo ideal para si? É melhor quando está numa esplanada a ver a paisagem? 
Bom, as ideias surgem-me espontaneamente, mas depois disto há muitas horas de trabalho sentada a uma mesa. Tenho de trabalhar as palavras, quais as rimas e a métrica certas, quais as palavras que ficam bonitas cantadas, porque nem todas as palavras são bonitas cantadas. Então, há muitas horas de trabalho depois de me surgir a ideia. 


Porque escolheu o nome "Riû" para este seu mais recente disco?
(pensa durante uns segundos) É uma maneira de mostrar o álbum, porque tudo vai no mesmo sentido. A capa, uma foto tirada pelo Bryan Adams, a rir, as cores, as letras das músicas. Queria demonstrar que o fado é intenso sem ser necessariamente triste. As músicas deste álbum são todas positivas, não digo que são todas alegres porque também falo de algumas coisas que não são tão alegres assim, mas no fundo, retiro sempre o positivo de todas as situações. É algo muito meu. E "û" porque queria jogar com rio (do verbo rir) e com rio (de água), todos os meus álbuns têm um elemento da natureza: o primeiro uma pena, o segundo uma raíz e este o rio. 


Que diferenças vão encontrar os seus fãs entre este seu trabalho e os seus álbuns anteriores? 
Este é mais leve, mais fresco e mais positivo. É mais virado para as marchas do que para as músicas melancólicas. Mas sou eu… Nas minhas músicas e letras a mensagem é sempre a mesma. Eu vejo sempre o lado positivo, esforço-me por isso, e mantenho-me sempre igual. Também vai permitir-me uma dinâmica diferente nos concertos o que é muito interessante, vou ter músicas mais alegres e músicas mais melancólicas o que vai enriquecer os concertos, penso eu. 


Mas porquê esta mudança? 
Eu nunca penso em nada sobre os meus álbuns, não sabia como ia ser este álbum. Começo sempre a juntar reportório e vejo onde isso me leva. Eu só sabia que queria que fosse algo que tivesse a ver com a água (sei que o meu próximo será algo relacionado com o fogo, mas é tudo o que sei, porque é o quarto elemento da natureza que me falta), não sabia qual seria o conceito. Mas, entretanto, surgiu a alegria, as viagens, os sabores, o bem-estar. Acho que não poderia encarar o processo de outra forma. Eu acredito em Deus e vou vivendo com o que me surge, as relações que vivi neste último par de anos. Fui pedindo ideias a pessoas que já eram minhas amigas e a ideia foi crescendo. Sabes, o fado fala sempre sobre a nossa vida, o próximo álbum também será o resultado do que vou viver nos próximos tempos. 


O fado é o cartão de visita de Portugal no estrangeiro. Sente, por isso mesmo, uma responsabilidade acrescida quando canta lá fora? É uma experiência muito diferente em comparação a cantar em solo luso? 
É. É muito diferente. As pessoas em Portugal percebem a nossa língua, portanto percebem logo a mensagem. Mas o fado ultrapassa as fronteiras, é por isso que o considero milagre. As pessoas lá foram valorizam mais o fado do que os próprios portugueses. Vivem mais, choram mais, riem mais. E sim, é uma responsabilidade gigante. Somos o cartão de visita, temos de nos portar bem lá fora (risos). Temos a possibilidade de contribuir para o nosso país, não só culturalmente mas também ao nível do turismo, porque ao darmos a conhecer Portugal estamos a aguçar a curiosidade e a vontade de nos descobrirem. Somos os embaixadores de Portugal lá fora, reflectimos o fado e a sua origem e, portanto, sente-se uma responsabilidade acrescida. 


Como imagina que seja o futuro do fado em Portugal? 
Eu estou muito contente! Atualmente temos muitos fadistas e todos muitos diferentes, o que é óptimo! Eu agrado a uns, a Ana Moura a outros, a Mariza a outros... Quanta maior a diversidade, a mais pessoas agradamos e levamos o fado. Neste momento, acho eu, o fado tem um futuro brilhante! 


Muito obrigada à Cuca pela simpatia e um obrigada especial à Cátia sem a qual esta entrevista não teria sido possível!


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