segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

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93ª Entrevista do FLAMES: Rui Massena (Maestro português)


Rui Massena


Rui Massena é uma conhecida figura do panorama cultural nacional. Foi jurado na Operação Triunfo e agora no Got Talent, mas o seu currículo é muito mais vasto do que isso. É maestro e esteve à frente de importantes Projectos como Guimarães 2012. Foi ainda o primeiro maestro português a dirigir no histórico Carnegie Hall, em Nova Iorque, onde conduziu o New England Symphonie Ensemble, facto que o marcou e que relembrou neste seu mais recente trabalho com a composição "Carnegie Hall". O seu talento levou-o a trabalhar em várias partes do globo e chegou a protagonizar ao longo de 2013 uma série de treze episódios para a RTP 1: “ Música, Maestro!”. Para além disso tudo é detentor de uma das melhores qualidade do Ser Humano: a simpatia; e tem muito bom gosto ou não fosse ele um adepto do Futebol Clube do Porto! Numa altura em que tanto se tem falado sobre a importância da “liberdade de expressão” aparece este álbum “Solo” que mais uma vez demonstra a sua ousadia, numa clara saída de uma zona de conforto. Vamos conhecer melhor o artista e este seu trabalho. 

A todos os músicos o FLAMES pergunta... 

Quais são os artistas que mais o inspiram? 
Nesta fase de composição e do ponto de vista dos portugueses destaco Mário Laginha. A nível internacional gosto imenso do trabalho de Chilly Gonzales ou Hiromi Uehara. 

Tem algum local onde gostaria particularmente de tocar as músicas deste seu disco?
Sim, eu gostava muito de um dia conseguir tocar por exemplo no Carnegie Hall, tocar as minhas próprias composições em vez de dirigir? Já estive em salas interessantes pelo mundo fora mas foi precisamente a dirigir, de maneira que gostava muito de levar a minha música assim a grandes salas.

Já trabalhou com imensos artistas nacionais como os Da Weasel ou Expensive Soul e esteve mesmo em Orquestras lá fora: Roma, Zurique, etc. Lembra-se de alguma situação caricata que já lhe tenha ocorrido?
Uma situação caricata? Não sei, de momento não me estou a lembrar.. 

Ao Rui Massena o FLAMES pergunta... 


Afirmou que gostaria que este seu disco transmitisse tranquilidade a quem o ouve, e por acaso foi também o que senti quando o ouvi…

A Roberta já ouviu? 


Já, já ouvi. 
Ai já? E gostou? 

Sim, gostei, eu gosto muito de música clássica e música instrumental...
Já agora, o que é que achou? Isso é que é importante para mim... 

Eu ouvi o disco muito antes de ler o que quer que fosse sobre ele. Antes de saber o que pretendia com ele... ouvi-o e depois achei piada quando li que pretendia transmitir tranquilidade com ele, porque foi precisamente aquilo que eu senti. Eu comecei a ouvir o disco, estava a trabalhar ao mesmo tempo e lembro-me de parar, fechar os olhos e (suspiro)… ai, tão bom! 
Ó Roberta, isso é a melhor coisa que me pode dizer porque é exactamente isso que eu sinto sobre ele… É como se eu tivesse precisado de encontrar essa parte para mim próprio, está a ver? Independentemente de algumas canções até serem mais melancólicas, algumas mais tristes, outras mais intensas, eu acho que no geral ficou essa tranquilidade que transmite uma sensação de paz. Eu gostaria que as pessoas de alguma forma conseguissem chegar a casa depois de um dia cansativo de trabalho, ou ao fim de uma longa viagem, e que à noite pudessem ouvir música e ficar em paz. 

Sim, e isso foi muito bem conseguido. Depois também foi interessante outro aspecto. O CD é basicamente com piano não é? E depois a uma certa altura aparece uma música com um violino, e é engraçado aquele corte, aquela quebra que faz a diferença. 
É, é uma esquina. Aquilo acaba por ser uma personagem. Portanto, ali o violino é uma personagem de alguém que me faz falta. É um som diferente e uma voz diferente.

Ainda por cima são dois instrumentos muito bonitos. Bom, acabou um pouco por me responder a uma outra pergunta. porque eu tinha curiosidade em saber se esta vontade de tranquilidade, foi inspirada pela conjectura que estamos a viver hoje em dia, ou se não teve nada a ver com isso…
Não não, este disco é um acto pessoal. Há muitos anos que eu tinha este desejo de compor e finalmente encontrei essa paz. Acho que aqui, neste momento, não tem a ver com nada. Este disco é um acto endógeno, eu queria que aquilo que a Roberta sentiu as pessoas também sentissem. No fundo, quero que as pessoas o ouçam e relaxem. Eu mesmo depois do ter gravado o pus a tocar e senti isso. Bem, no fundo o que eu gostava era de partilhar essa identidade, essa tranquilidade com as pessoas. 

Acho que isso se sente bastante
Que bom, que bom (riso).

Também vi o vídeo da música D-Day. Está fantástico e fiquei com uma curiosidade: teve assim um papel mais activo na construção do vídeo ou deixou isso ao critério do realizador?
Bom, a ideia partiu de mim. A parte do desembarque e isso, a ideia de trabalhar com o processo numa espécie de guerra interior, um confronto interior entre querer fazer as canções e sentar-me ao piano e ter tempo para o fazer, porque é preciso tirar muito tempo para o fazer. Toda a vida que eu levei até aqui sempre cheio de pessoas e coisas… portanto, no fundo esta música surgiu numa altura em que se comemoravam os 70 anos do desembarque na Normandia, mas música foi mais além. Foi um desembarque como compositor depois de uma batalha interior. Quanto ao vídeo propriamente, bom, essa parte deixei-o totalmente nas mãos do Jorge Leal o realizador. Mas é claro que supervisionei toda a construção do vídeo para que eu me identificasse completamente. 

Este álbum chama-se então Solo! As músicas centram-se sobretudo no piano, mas eu sei que gosta imenso de comunicar e de estar com pessoas. Este processo de construção do disco foi assim um processo mais solitário comparativamente aos outros? Sentiu-se assim ou nem por isso… 
Sim, isso acontece um pouco sempre que se escreve música. Mesmo quando fiz orquestrações para grupos e para orquestras os processos são sempre solitários e este foi mais que um processo solitário, porque este foi um projecto de construção de identidade. Foi a ideia de perceber o que é que eu queria, que música é que eu queria, o que é que me vai na alma e de que forma. Sim, foi basicamente um ano para escolher essas 15 músicas. Um ano quase em que eu fiz reclusão e portanto… foi, foi muito solitário sim, mas eu também o desejei. Este foi um projecto que me ligou a mim com o piano, e que se é uma relação. Foi uma relação comigo e com o piano, enquanto que numa orquestra eu tenho que comunicar com 50, 60, 70 músicos, onde nunca posso fazer nada sozinho. Foi um processo de criação sozinho numa relação com o piano, no meu tempo, mas foi mais do que isso... foi também um verdadeiro projecto de identidade e de construção de identidade na criação. 

Tem trabalhado imenso em prol da expansão da música clássica em Portugal, até teve o seu próprio programa na RTP1 “Música Maestro”, como é que tem sentido a evolução da música clássica em Portugal, acha que os jovens estão cada vez mais afastados da música clássica ou não? 
Sim, acho que os públicos estão a envelhecer e é preciso criar sistemas de aproximação, de gosto pelos sons mais clássicos. Acredito que este meu disco também tenha esse lado… o facto de serem canções, apesar de ser só instrumental, acredito que este clássico contemporâneo, de canções ao piano, possa aproximar também as pessoas da música. Mas claro, é preciso que nós, os agentes culturais, todos tenhamos essa cuidado, e todos temos a noção de que é preciso aproximar as pessoas da música clássica. É a mesma coisa para a literatura não é? Os grandes autores da literatura têm que ser lidos, portanto é preciso aproximá-los de alguma forma. 

Acabou por responder à minha pergunta seguinte, que é exactamente isso, de que forma é que achava que este disco também ia ajudar a isso, à promoção pelo gosto da música mais instrumental. 
Isto é um disco meu, portanto eu não tenho pretensões… Quando eu sou Maestro duma instituição, ou programador artístico, eu tenho a preocupação de me aproximar da minha comunidade, ou seja, de programar para as pessoas. Aqui não, eu aqui fiz! Claro que é um acto onde tenho alguma preocupação de que as pessoas gostem porque eu quero tocar para as pessoas.. mas parte da minha escolha como músico. É exactamente essa necessidade que eu tenho, de chegar às pessoas. Mas este disco eu fi-lo para mim, portanto não o fiz com a ideia de aproximar o público à música clássica, não. Tenho o disco feito, porque gosto, porque sim, porque queria para mim, está a ver? Não tinha a ideia de “agora com este disco vou aproximar toda a gente…”, não não. Este é o meu processo, aliás isto tem sido assim um bocadinho comigo, e às experiências que eu sinto. Quando eu sinto as experiências vou ao encontro delas. Às vezes é assim que acontece, eu vou à procura de algo para mim e depois dá-se a volta. Eu vou porque me apetece a mim, depois se calhar isso aproxima os outros disso, mas vou mais por mim do que propriamente pela comunidade. Portanto este disco, acredito que possa chegar a algumas pessoas, gostava muito que chegasse, sei lá... É mais um pequeno prazer para alguém, espero que sim, acho que seja, mas é sobretudo um disco muito feito para mim. 

Então e o que é que podemos esperar do seu concerto no dia 31 de Janeiro? 
No concerto do dia 31, acho que podemos esperar que o disco apareça, tocado ao vivo e com boa energia. Eu vou a Alfândega da Fé retribuir o gesto, a generosidade daquele povo, daquela terra, que de facto foi inspirador à residência artística que eu lá fiz. 

E depois está a pensar fazer outros concertos, levar o disco a outros lugares? Há coisas programadas?
Sim, haverá com certeza uma tournée nacional. Os primeiros concertos marcados são a 16 de Abril no CCB, no grande auditório e dia 19 de Abril na Casa da Música.

Muito obrigada ao maestro Rui Massena pela sua simpatia e disponibilidade! 



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4 comentários:

  1. grande maestro e enorme pessoa ! :)
    muito sucesso!

    diasporadossentidos.blogpot.pt

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  2. Obrigada pelo seu comentário Pedro!
    Ele é realmente uma pessoa fantástica e um dos artistas mais talentosos em Portugal! É tão bom termos gente assim no nosso país.
    Um beijinho
    Roberta

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    Respostas
    1. Já trabalhei com vários maestros portugueses mas nunca tive a oportunidade de trabalhar com o Rui.
      Espero bem que lhe seja reconhecido o trabalho que tem desenvolvido nestes últimos anos. Será um cd que vou querer ter, sem dúvida!
      Talvez noutro país já tinha atingido esses objetivos de pisar palcos maiores, não em tamanho mas em importância, numa carreira como a dele. Portugal tem talento. Não o aproveita, simplesmente. E assim se vai perdendo uma geração de ouro na música, tanto em direção como instrumental. O Rui, como grande artista, não só dirige como toca maravilhosamente!
      Parabéns pela entrevista e continuação de um excelente trabalho!
      Beijinho,
      Pedro Taveira

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    2. Que lindas palavras Pedro! Muito muito obrigada mesmo!
      Continuação de bom trabalho por aí também.. já estive a espreitar :p
      Beijinho

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