segunda-feira, 18 de março de 2013

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5ª Entrevista: Carlos Santos Oliveira (escritor)


Carlos Santos Oliveira



Carlos Santos Oliveira nasceu na Chamusca, no Ribatejo, onde durante alguns anos exerceu a profissão de jornalista. Desenvolveu ainda actividades como animador de rádio e actor.
Viveu no Brasil, país onde frequentou o curso de Línguas e Literatura Moderna e foi membro do CIP (Centro de Imigrantes Portugueses), que realizava eventos de divulgação da cultura portuguesa.
Bacharel em Comunicação, foi professor nos Açores e é actualmente oficial de justiça. Tem inúmeros textos publicados em vários jornais e alguns dos seus poemas fazem parte de colectâneas de poesia.
Em 2008 publicou o romance É Tão Fácil Morrer, em 2009 o livro de poesia Redes e o livro de relatos Sentenças da Vida. No ano de 2010 publicou o livro infanto-juvenil A Lição do Rinoceronte e em 2011 o livro de estórias Os Filhos Não São Maus.Os seus últimos dois livros intitulam-se O Peso das Gordas... e Um Menino Feliz na Chamusca.
 
Qual é a sua nacionalidade: Portuguesa
O seu Filme favorito: “O Crepúsculo dos Deuses”, realizado por Billy Wilder.
O seu Livro favorito: “O Sol dos Scortas” – Laurent Gaudé.
O seu Anime favorito: Não tenho
O seu Manga favorito: Não tenho 
O seu Evento/Espectáculo de música/Programa de Entretenimento favorito: Heróis do Mar, Pólo Norte, Rui Veloso.
A sua Série de televisão favorita: “Ruca”

Muitos dos seus livros misturam vidas reais, duras e difíceis, com uma escrita poética. À partida poderia parecer uma mistura “estranha”, no entanto nós gostámos imenso. Fá-lo com algum propósito específico de “aligeirar” de alguma forma o modo como o leitor se irá sentir, ou tem mais a ver com o seu estilo de escrita pessoal?
Tenho 7 livros publicados. Apenas um deles é de poesia, “Redes”. Mas há um outro com alguns laivos de prosa poética, penso que é a esse que se referem, “Sentenças da Vida”. Por se tratar de um livro descritivo de factos reais vividos num Tribunal de Família e Menores, envolvendo, sobretudo, crianças maltratadas, houve, da minha parte, como que um instinto de as proteger e de as abraçar com profunda ternura. A necessidade e o desejo de partilhar esse Amor com elas resultou numa obra com uma mensagem muito sensitiva.
Daqui se depreende que jamais será meu propósito “aligeirar” o que escrevo, porque entre os leitores estão muitos daqueles que maltratam os filhos e as mulheres. É preciso desmascará-los e, se possível, fazê-los reflectir e levá-los a parar com a violência. 

Ainda não lemos o livro “O Peso das Gordas – porque qualquer Mulher é muito mais do que um corpo”. Parece-nos um tema muito relevante e actual. O que nos pode dizer sobre ele?
Esse livro afirma que as mulheres se devem amar e que merecem ser amadas. Nenhuma mulher pode ser valorizada ou ridicularizada apenas devido ao aspecto do seu corpo. É claro que a auto estima é fundamental e que nenhuma mulher gosta de ser feia ou ter um corpo mal feito, contudo penso que as mulheres se estão a deixar instrumentalizar pelo desejo sexual dos homens e pelo preconceito social. No fundo pretende-se que elas sejam apenas um corpo. A inteligência, a sensibilidade, a afectividade e a sua função primordial como mães deixa de ter qualquer importância ou significado, desde que elas não tenham as medidas alinhadas pelos padrões de beleza social. Isto sim é que é ridículo! As mulheres entrarem em clínicas de fabrico em série, para saírem com o mesmo código de barras e serem “vendáveis” no mercado comercial da vaidade. É evidente que a indústria estética e das “gordas” é uma das mais rentáveis no momento, por isso convém continuar a lançar o medo pânico sobre as mulheres e fazê-las acreditar que têm sempre uns quilos a mais e que isso faz delas umas “antas”, “vacas” ou “baleias”.
O livro é uma novela, um testemunho e tem também referências sobre a história do cinema, da pintura e da evolução e “involução” da mentalidade social relativamente à mulher.

Aborda as dietas malucas, a loucura das operações de redução de estômago, mas também o sucesso que se pode conseguir, para perder peso, só com a auto estima, o exercício físico e uma alimentação adequada. Mais uma vez, à semelhança de outras obras que publiquei, o livro e os personagens são praticamente decalcados da realidade. A ficção é só o quanto basta para temperar o texto. A grande pergunta do livro é saber se as mulheres pretendem ser humanas e lutar pelos seus direitos, ou preferem ser usadas, abusadas, discriminadas e singelas bonequinhas de estimação?

Sabemos que, para si, o amor é um sentimento em extinção. O que o leva a proferir tais palavras? 
Trabalho há cerca de 11 anos em Tribunais de Família e Menores, para além de toda a minha experiência social, e o que vejo é desolador. O egoísmo tem vindo num crescendo. As pessoas confundem amor e sexo, ou vice-versa, numa trapalhada. Casam-se por ser tradicional e descasam-se por estar na moda. Fazem filhos dos quais depois se descartam rapidamente como se eles fossem vulgares preservativos. Vivem de aparências e o materialismo é o seu maior objectivo, por isso dar uns murros nas mulheres e uns pontapés nos filhos mais não é do que a manifestação violenta dessa falta de afectos. Penso que as pessoas não têm ideia do número de crianças abandonadas e maltratadas que são uma sobrelotação para os tribunais. Uma vergonha e uma desgraça social. Ultimamente surgiu uma nova modalidade desta tragédia: os pais a assassinarem os próprios filhos. Felizmente que ainda existem muitas pessoas que praticam de facto o Amor. Tenho esperança que elas possam fazer sobreviver a cultura da afectividade.

O amor é, também, um dos temas fundamentais de todos os seus livros. Consegue transmitir-nos a importância do amor de uma forma não “lamechas”... antes pelo contrário. Não é fácil, a nosso ver, falar de certas temáticas sem cair, por momentos, no campo do ridículo. Como o faz?

Talvez devido a uma entrevista que dei a um programa de televisão, a produção tenha tentado criar um pouco de “espectáculo” à volta do meu livro “O Peso das Gordas – porque qualquer Mulher é muito mais do que um corpo”, que serviria mais os interesses de captação de audiências. Contudo, não me deixei conduzir nesse sentido e penso que defendi a obra e a Mulher de uma forma muito digna, e não deixei que fossem ridicularizadas. Trata-se de um livro de Amor dedicado às mulheres e só quem não o leu pode interpretá-lo de outra forma. Completando a vossa pergunta, devo referir que todos os meus livros reflectem e apelam ao que acho ser fundamental a qualquer ser humano e à sociedade: o Amor, a Amizade e a Família. Penso que não é necessário embelezar as palavras com pétalas, porque os sentimentos também têm espinhos e ferem a alma. Não se pode recear falar das imperfeições do Amor, porque isso seria omitir e ridicularizar a verdade. Quem ama ou já amou, sabe bem que o prazer e o sofrimento são duas faces da nossa vida amorosa. Por esse motivo, para mim o Amor não é uma ficção.

O seu trabalho é muito importante pois tem, sem dúvida, um cariz muito interventivo e pode, realmente, fazer a diferença. O que o motiva?
Sou, sobretudo, um escritor de intervenção social. A minha escrita tem muito pouco de ficção. Os personagens dos meus livros sou eu próprio e as pessoas com quem me vou cruzando na vida. O que me motiva a alinhavar mensagens é o facto de através da escrita poder dar a palavra e partilhar a vida dessas pessoas e também chocar os leitores com a realidade e levá-los a reflectir sobre o seu papel social. Tentar alertá-los para o facto da Família, a Amizade e o Amor, serem o triângulo de sentimentos fundamentais para a nossa realização humana. Fico feliz por cada vez receber mais retorno às minhas mensagens, quer através do facebook, do e-mail, da compra dos livros e da abordagem directa. As pessoas procuram-me, não só para me darem os parabéns pela forma corajosa como abordo temas que a sociedade tenta escamotear, mas também para me dizerem que vivem de uma forma honesta e com Amor. No meio desta troca de mensagens também existem muitos pedidos de auxílio no campo jurídico e social. Isso dá-me imenso orgulho porque me permite, de facto, mais do que escritor ser um voluntário que serve o próximo.

Quais são, a seu ver, as problemáticas mais importantes e relevantes que devem ser objecto de maior atenção por parte do nosso governo? 
Para responder a esta pergunta gostaria de esclarecer que sou apartidário. Que já fui por mais do que uma vez convidado para fazer parte de listas eleitorais e recusei. Prezo muito a minha liberdade de pensamento e a paz da minha consciência. Os políticos, em geral, têm uma gula insaciável pelo poder e um desejo imenso de se lambuzarem no dinheiro. A maior parte deles são uns incompetentes que encontraram neste meio o seu ideal, pois não são responsabilizados pelas suas asneiras e crimes graves e depois de terminados os seus mandatos, ainda são agraciados com cargos de favor em administrações de empresas públicas e privadas, como moeda de troca pela sua militância e favorecimentos em cadeia. Quanto a esta espécie de (des)governo que temos, penso que enquanto os valores económicos esmagarem os direitos humanos, jamais será possível existir justiça social. As pessoas não podem ser unicamente números de identificação fiscal. Se a falta de solidariedade e sensibilidade política para com elas se mantiver, isto dará origem a uma desumanização de consequências terríveis.

O nosso anterior entrevistado, a escritora Anita Carapinheiro, teve como desafio deixar uma pergunta ao próximo autor sem saber de quem se tratava (Pode ver a entrevista aqui: (http://www.flamesmr.blogspot.pt/2013/03/entrevista-autores-anita-carapinheiro.html). A pergunta foi a seguinte: "Qual a sua fonte de inspiração?"
É simplesmente viver a vida!

Se pudesse, o que é que perguntaria ao próximo autor ou autora que iremos entrevistar?
Seria capaz de viver sem a escrita?

Obrigada ao autor pelas respostas, pela disponibilidade e, sobretudo, pelas suas palavras!


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